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Saída de Decotelli abre espaço para uso político ou ideológico do MEC

Maria Carolina Trevisan

30/06/2020 17h45

Decotelli teve que deixar governo após mentiras em currículo. Foto: reprodução redes sociais

O Brasil buscará seu quarto ministro da Educação em um ano e meio de governo Bolsonaro. As informações equivocadas, infladas e falsas sobre o currículo acadêmico do agora ex-ministro da Educação, Carlos Alberto Decotelli, inviabilizaram a possibilidade de que ele comande a pasta. Decotelli anunciou o pedido de demissão do MEC nesta terça-feira (30), cinco dias depois de ser nomeado para o cargo.

Os panos quentes de Jair Bolsonaro na tarde da segunda-feira (29) e a postura mais contida do presidente não foram suficientes para baixar a pressão sobre Decotelli. Nem o presidente, nem seu governo ou ministros militares inspiram confiança neste momento político corroído pelo péssimo comando do país na pandemia, entre outras complicações.

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Nessa confusão entre nomeação, incêndio e explicação, o escolhido de Jair não teve nenhuma menção de apoio da área acadêmica. Isso porque fraudar as informações do currículo é considerado muito grave na academia, além de ofensivo e desrespeitoso. Ficou ainda mais evidente que, para o governo Bolsonaro, o conhecimento científico e técnico de sua equipe ministerial pouco importa.

As mentiras do ex-ministro acabaram com qualquer credibilidade, o que impossibilitou o trabalho conjunto. Agora, a disputa pela vaga na cadeira de chefe da Educação deve ser travada por candidatos da ala ideológica ou que contemplem interesses políticos. O perfil técnico e conciliador perde espaço. É um dilema no qual pesa a vontade do "centrão", em que a mercadoria é a troca de cargos por apoio ao presidente. Nesse caso, haveria alinhamento com os ministros militares. E pode resultar em influência nas eleições municipais.

Se quem ocupar o cargo for da ala ideológica, a consequência pode ser o aumento da desaprovação do governo e da impopularidade do presidente Bolsonaro. Também pode aprofundar a paralisia no MEC, por incompetência. Os três ministros olavistas que restam ao governo (Damares, Ernesto Araújo e Ricardo Salles) enfrentam acúmulo de problemas e flagrante ineficiência. O presidente foi aconselhado a trocar os dois últimos.

Quanto da estratégia de aparente recuo do presidente Bolsonaro previa usar um homem negro e moderado como escudo para se proteger e, ao mesmo tempo, provocar uma desculpa adequada para escolher mais um olavista ou para se render ao toma lá dá cá?

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Sobre a autora

Maria Carolina Trevisan, 40, é jornalista especializada na cobertura de direitos humanos, políticas públicas sociais e democracia. Foi repórter especial da Revista Brasileiros, colaborou para IstoÉ, Época, Folha de S. Paulo, Estadão, Trip e Marie Claire. Trabalhou em regiões de extrema pobreza por quase 10 anos e estuda desigualdades raciais há oito anos. Coordena a área de comunicação do projeto Memória Massacre Carandiru e é pesquisadora da Associação Nacional de Direitos Humanos, Pesquisa e Pós Graduação. É coordenadora de projetos da Andi - Comunicação e Direitos. Em 2015, recebeu o diploma de Jornalista Amiga da Criança por sua trajetória com os direitos da infância.

Sobre o blog

Reflexões e análises sobre questões ligadas aos direitos humanos: violência, polícia, prisão, acesso a direitos, desigualdades, violações, racismo, sistema de Justiça e política.