Atentado contra Bolsonaro obriga campanhas a rever tons de ataque
O atentado com faca contra o candidato à presidência Jair Bolsonaro (PSL), que aconteceu nesta quinta (6), em Juiz de Fora (MG), é um fato gravíssimo. Fará com que as campanhas e os candidatos tenham que rever o tom de agressividade contra opositores. Por responsabilidade com seus eleitores.
"Todos os candidatos reagiram muito bem. Imagino que as campanhas agora vão enfatizar o que os candidatos disseram no momento: que é algo muito grave para a democracia, inaceitável", diz Maria Hermínia Tavares de Almeida, professora titular aposentada de Ciência Política da USP e pesquisadora do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento).
"O problema é que Bolsonaro se construiu num caminho de ódio, de ressentimento, de reação violenta." Para ela, diante dessa construção é difícil baixar o tom agora. Esta semana foi marcada por tiroteio entre candidatos.
Nos últimos dias, as campanhas à Presidência da República alcançaram níveis de ataque direto contra adversários. O mais contundente deles partiu justamente de Bolsonaro, que em visita ao Acre pregou "fuzilar a petralhada". Ao ser questionado pela procuradora geral da República, Raquel Dodge, disse que a fala era "brincadeira". Brincadeira perigosa. Depois disso, chutou um "pixuleco".
Geraldo Alckmin (PSDB), por sua vez, mudou de estratégia recentemente e bateu de frente com Bolsonaro (PSL) ao longo da semana, como mostra o GPS Eleitoral. Alckmin mostrou a truculência do militar da reserva contra mulheres ao longo dos anos e seu apoio ao porte legal de armas. E declarou nesta quarta (5): "não há ninguém tão despreparado quanto Bolsonaro. Nós iríamos para o caos, farei o possível para que isso não aconteça. Um despreparado que em 28 anos como deputado não fez absolutamente nada a não ser defender o corporativismo."
Do outro lado, o candidato Guilherme Boulos (PSOL) disparou contra Haddad, possível candidato do PT. "É lamentável a gente ver, como vi na semana passada, Fernando Haddad ir lá fazer fazer beija mão para o Eunício [Oliveira, do MDB] e para o Renan [Calheiros, do MDB] depois de tudo que aconteceu. Parece que a relação PT e MDB virou caso de divã, caso de masoquismo", disse Boulos.
Ciro Gomes (PDT) tem tentado manter a linha e se resguardar da própria personalidade explosiva. Mas as agressões escapam, miram a esquerda, a direita e quem estiver atrapalhando seu caminho. No último domingo (2), xingou João Dória, candidato ao governo de São Paulo, de "vagabundo" e "nojento".
Até o presidente Michel Temer (MDB) entrou na onde de ataques diretos. Passou um pito em Alckmin em sua conta no Twitter. O tucano vem tentando descolar sua imagem do governo Temer. "Não atenda o que dizem seus marqueteiros. Atenda a verdade", disse o presidente. Temer também deu bronca em Fernando Haddad (PT), pedindo para que ele "leia a Constituição" e disse que Haddad estaria "inventando as coisas de sua própria cabeça", ao declarar que seu governo é fruto de "golpe".
Apenas Marina Silva (Rede) tem mantido certa elegância, mesmo em momentos combativos.
No entanto, após a violência inaceitável que sofreu Bolsonaro, no final do dia todos os candidatos repudiaram a agressão. Será importante adotar um discurso menos violento, entre todos. Mas como controlar o eleitorado, agora ainda mais raivoso?
A pesquisa Ibope divulgada esta semana mostrou que Bolsonaro perderia no segundo turno contra quase todos os candidatos mais bem colocados e empataria (ou perderia) com Haddad, um candidato que ainda não foi oficializado.
Resta saber agora se a campanha de Bolsonaro vai se aproveitar do atentado e endurecer ainda mais o discurso agressivo, ou se o candidato adotará uma saída mais responsável para o momento delicado que estamos vivendo no Brasil. Afinal, o direito à vida é o mais importante entre os direitos humanos, tão tripudiados pelo candidato do PSL.
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